Uma forte carga de imprevisibilidade

Quem são os Chaosophy? O trio oriundo de Valência junta Josep Lluis Galiana (saxofones tenor e soprano), El Pricto (saxofone alto e piano elétrico) e Avelino Saavedra (bateria e percussão). O grupo pratica uma música assente na improvisação livre e na tradição do free jazz, pós-Albert Ayler, herdeiro direto de Peter Brötzmann: uma música incendiária sempre em alta intensidade. O espanhol Josep Lluis Galiana explica a filosofia e percurso de um grupo que promete desafiar os limites.
De Nuno Catarino
Como chegaram ao nome do grupo, Chaosophy, e o que significa?
Inspirados pelo livro «Principia Discordia», pelo Discordianismo e pelo sagrado caos como condição natural da realidade, criámos este ensemble de improvisação livre chamado Chaosophy.
Como é que os três músicos se juntaram como trio?
Temos participado ativamente nas cenas nacionais e internacionais da improvisação livre, do jazz avant garde e da experimentação sonora. Após mais de cinco anos a tocarmos juntos e a colaborarmos, decidimos publicar aquele que foi o nosso primeiro disco como grupo. O disco «Who are these people and what do they believe in?» foi gravado a 5 de dezembro de 2017 nos Estúdios Shark em Valência. O El Pricto é natural da Venezuela, mas vive em Barcelona há dezasseis anos. Ele fundou a editora Discordian Records e é o líder da comunidade Discordiana. Eu e o Avelino Saavedra vivemos e trabalhamos em Valência e representamos a cena da música improvisada na cidade desde a década de 1990. Eu fundei a editora Liquen Records em agosto de 2016, uma nova editora que tem por objetivo divulgar música improvisada e experimental. A Liquen Records tem como objetivo levar aos ouvintes mais exigentes alguns processos criativos contemporâneos dos mais destacados artistas das cenas musicais nacional e internacional.
Poderia indicar algumas influências que foram decisivas para o desenvolvimento da sua música?
A minha música vai beber a muitas músicas. É o resultado de mais de trinta anos de estudo e exploração de diferentes géneros e estilos musicais. De uma perspetiva contemporânea até ao free jazz mais extremo, tento mover-me em águas sonoras sempre desconhecidas, imprevisíveis e absolutamente surpreendentes em cada concerto, se for possível.
Quais são os vossos planos como banda? Planeiam colaborar com músicos convidados?
Para já temos o objetivo de apresentar o nosso primeiro disco. Estamos muito satisfeitos com este trabalho e, quem sabe, talvez gravemos um novo álbum no futuro. A vida é imprevisível, absolutamente imprevisível e caótica. A coisa mais importante para nós é que gostamos de improvisar juntos!
Conhecem Lisboa, já estiveram na cidade? Conhecem a cena musical da cidade?
Gosto de Lisboa, mas só estive uma vez. Não conheço muito da cena musical particularmente da improvisação e do jazz, mas sei que é muito interessante e muito ativa.
Em Lisboa vão tocar num festival num jardim, ao ar livre. O que poderemos esperar do vosso concerto no JIGG?
Estamos muito entusiasmados por darmos a conhecer a nossa música. Sabemos que o Jazz im Goethe-Garten é um festival internacional importante para o jazz e música improvisada. A nossa música, que se move entre o jazz avant garde, a improvisação livre e a experimentação sonora, tem uma forte carga de imprevisibilidade. A música de Chaosophy é absolutamente enérgica e muito vigorosa. A nossa música move o sangue e as vísceras. O diálogo poderoso entre os saxofones liga-se à força da bateria do Saaverda. O espaço tem um papel muito importante na improvisação livre e nós vamos escutar atentamente o jardim, o público e todos os sons à nossa volta.
Para terminar, podem dar uma resposta ao título do vosso disco, «Who are these people and what do they believe in?»? (Quem são estas pessoas e em que é que elas acreditam?)
Como referi no início da entrevista, os Chaosophy e a nossa música são inspirados pelos princípios Discordianos e os nossos títulos vêm do livro “Principia Discordia”, que é uma grande colagem conceptual. “A humanidade começará a resolver seus problemas no dia em que ela deixar de se levar muito a sério. Temos que pensar mais em nós mesmos e na vida quotidiana; não em economias ou ordens superiores. Para este fim, propomos que o ser humano desenvolva o seu amor inato pela desordem”. A “Principia Discordia” diz-nos que «se conseguirmos dominar o nonsense da mesma forma que já aprendemos a dominar o sentido, então cada um irá expor o outro por aquilo que é: absurdo. A partir desse momento de iluminação, o ser humano começa a ser livre, independentemente daquilo que o rodeia. Ele torna-se livre para jogar jogos de ordem e alterá-los à vontade. Ele torna-se livre para jogar jogos de desordens, apenas porque lhe apetece. Ele torna-se livre para jogar ou para não jogar, nem um nem ambos. E como o mestre dos seus próprios jogos, ele joga sem medo e, portanto, sem frustração e, portanto, com boa vontade na sua alma e amor no seu ser «. Finalmente, “quando os seres humanos se libertarem, tornam-se livres; então a humanidade será livre e poderemos ter o conhecimento de um sábio e a sabedoria de uma criança”.
CHAOSOFY | ESPANHA
A improvisação livre e a deriva sonora são os pontos de partida deste trio de Barcelona oriundo de uma cena que urge ser conhecida e que se aplica numa música energética e vibrante via uma organização instrumental pouco ortodoxa. Dois saxofones que se desdobram & bateria são criadores de uma tensão que cimenta um discurso coletivo inconformista e subtil.
El Pricto, saxofone alto, piano elétrico Fender Rhodes | Josep Lluís Galiana, saxofones tenor e soprano | Avelino Saavedra, bateria.